Estava sentada na bancada de um bar moderninho quando a encontrei. Era raro encontrar qualquer um, mas às vezes acontecia. Ela me reconheceu rapidamente, eu demorei um pouco.
Debaixo de todas aquelas tatuagens e cores diferentes no cabelo, não se parecia em nada com a garota gordinha e de óculos da escola.
- é você?
Agarrada num copo sentou-se do meu lado.
- espero que seja.
- nossa, é você mesmo.
E arreganhou um sorriso naquele rosto com pele de pêssego e cabelos macios. Levantei as sobrancelhas e reafirmei minha identidade.
- nossa, o que você anda fazendo?
- bem, nada muito importante.
- ah, como assim ?
- e você?
- sou escritora e cantora, não me reconheceu?
Não, mas sorri como se não tivesse entendido bem a pergunta.
- estava em Londres terminando meu doutorado.
- legal.
Silêncio. O passado nos atinge das formas mais desagradáveis. E ela disse:
- sempre adorei o que você escrevia na escola, me influenciou muito, por que não continuou escrevendo?
Sorri o sorriso mais largo que pude, peguei minha cerveja e me levantei vagarosamente. Ela me seguiu com os olhos e entendeu. Sentei-me no final do balcão, em um lugar escuro e quieto, bem próximo a saída. Assim era seguro, mais uma tentativa de resgatar o passado e eu estaria fora dali em segundos.
Ela se levantou e foi se encontrar com os amigos na mesa. Era muito digna. Ficaram até às 4 da manhã bebendo whisky e outros drinks caros. Cantaram canções e sairam abraçados. Eu permaneci no canto escuro fazendo companhia ao vácuo até que senti minhas pernas dormentes. Cambaleei para fora do bar e andei muito digna até a minha casa.