Escrever é uma coisa idiota. Perda de tempo que poderia ser útil fazendo alguma outra coisa útil.
Mauricio me dizia enquanto segurava meu cabelo e minha testa enfiada no vaso sanitário.
- Por que você nunca vomita, Mauricio?
- Porque, minha querida, não ouso beber como você.
Íamos para fora do bar fumar um cigarro. Ficávamos parados ali olhando a rua morta e sem trânsito.
- O que quer fazer agora?
- Por que não pega uma cerveja pra mim?
Fumávamos outro cigarro.
Um grupo de rapazes caminhavam e entravam no bar. Mauricio os observava.
- Tem preferência por algum?
- Qualquer um, minha querida.
Entrávamos no bar novamente. Mauricio me deixava para dançar com os rapazes. Ficava sentada, agraciada com a doce sensação de ter o estômago limpo e novo em folha para iniciar o que havia sido interrompido.
Aquele era um lugar nojento, cheio de velhos tarados que olhavam meus peitos. Deveria se chamar "depressing hour", e de repente eu queria sair dali.
- Está com raiva, querida?
- Não, Mauricio. Mas vamos embora daqui?
E as palavras voavam da minha boca sem que eu a abrisse.
- Mas chegamos agora, querida.
Eu tentava me levantar e caia. Pernas filhasdaputa. Mauricio ria.
- Por que você nunca cai?
Ele me segurava firme. Antes de sair me pendurei no pescoço de alguém. Mauricio cruzou os braços impaciente.
- Vai sentir minha falta, querido?
E não me respondiam. Talvez fosse o meu hálito.
Um americano falava sem parar.
- Mister, mister, will you miss me?
Disse que sim e me chamou de baby. Mauricio me resgatou e me enfiou no carro. Os isqueiros me decepcionavam e não acendiam. Tentei aquele do painel do carro.
- Vamos nadar até a lua, Mauricio?
E ele dirigia rápido, cortando a noite como um foguete.
- Por que não me deixa nadar, querido?
A lua nos engolia e eu acordava numa cama que não era minha.