08 agosto, 2008

uma cama que não era minha, num corpo que não era meu

Escrever é uma coisa idiota. Perda de tempo que poderia ser útil fazendo alguma outra coisa útil.

Mauricio me dizia enquanto segurava meu cabelo e minha testa enfiada no vaso sanitário.

- Por que você nunca vomita, Mauricio?
- Porque, minha querida, não ouso beber como você.

Íamos para fora do bar fumar um cigarro. Ficávamos parados ali olhando a rua morta e sem trânsito.

- O que quer fazer agora?
- Por que não pega uma cerveja pra mim?

Fumávamos outro cigarro.

Um grupo de rapazes caminhavam e entravam no bar. Mauricio os observava.

- Tem preferência por algum?
- Qualquer um, minha querida.

Entrávamos no bar novamente. Mauricio me deixava para dançar com os rapazes. Ficava sentada, agraciada com a doce sensação de ter o estômago limpo e novo em folha para iniciar o que havia sido interrompido.



Aquele era um lugar nojento, cheio de velhos tarados que olhavam meus peitos. Deveria se chamar "depressing hour", e de repente eu queria sair dali.

- Está com raiva, querida?
- Não, Mauricio. Mas vamos embora daqui?

E as palavras voavam da minha boca sem que eu a abrisse.

- Mas chegamos agora, querida.

Eu tentava me levantar e caia. Pernas filhasdaputa. Mauricio ria.

- Por que você nunca cai?

Ele me segurava firme. Antes de sair me pendurei no pescoço de alguém. Mauricio cruzou os braços impaciente.

- Vai sentir minha falta, querido?

E não me respondiam. Talvez fosse o meu hálito.

Um americano falava sem parar.

- Mister, mister, will you miss me?

Disse que sim e me chamou de baby. Mauricio me resgatou e me enfiou no carro. Os isqueiros me decepcionavam e não acendiam. Tentei aquele do painel do carro.

- Vamos nadar até a lua, Mauricio?

E ele dirigia rápido, cortando a noite como um foguete.

- Por que não me deixa nadar, querido?

A lua nos engolia e eu acordava numa cama que não era minha.