25 julho, 2008

o grande homem que eu não sou

Ele disse me olhando nos olhos que eu bebia e escrevia como um homem. A principio fiquei em dúvida se aceitava ou não como elogio. Pensei que havia grandes escritores homens de que gostava e poucas mulheres, por fim resolvi aceitar.

Tentei gostar das mulheres durante toda a minha vida. Achava que lhes devia algo. Principalmente àquela que abriu as pernas e disse sim para mim. Achava que devia honrar o meu útero e os seios e a minha capacidade de gerar um feto.

Infelizmente todas as minhas tentativas foram fracassadas.

Não consigo gostar delas.

Não que eu goste dos homens. Isso não. Se precisasse depender de um ou de outro, preferia voltar pra caverna e comer merda. Mas pelo menos eles começaram as coisas. Boas ou ruins.

Não me sinto confortável com o segundo lugar. Principalmente com um segundo lugar que ganha sua esmola de liberdade e escolhe insistir em erros já cometidos antes.

Eu me refiro às mulheres. Sim. Aos úteros que eu não venero.

Mas ele disse me olhando nos olhos que eu bebia e escrevia como um homem. E eu tomei como elogio.

Sentamos no bar e ele falou durante horas. Queria me levar para casa, mas eu não queria. Estava usando sapatos que me apertavam os dedos e aquilo estava se transformando numa tortura.

Por fim pedimos a conta e ele insistiu para que eu entrasse no carro. Disse que preferia andar e ele me seguiu pela rua como um vira-lata. Os sapatos me apertando naquela tortura sem fim e ele falando sobre coisas banais. Até que eu disse que tinha chegado.

Me deu um beijo sem graça e eu entrei em casa. Abri a porta e o gato veio me receber. Sentei na cadeira e liguei o computador.

Imaginei um grande homem se sentando no meu lugar e dando sentido as coisas.

Eu nunca conseguia dar sentido a coisa nenhuma.